Minha profissão é falar. Mamãe dizia, posso não ter aprendido a andar rápido, mas falar... Falava tanto que nem deixava minha irmã falar quando éramos crianças. Ela gesticulava e eu traduzia em palavras. Na verdade, muitas vezes não deixo as pessoas falarem com meus diálogos que mais são monólogos. Lógico, que não podia dar em outra, sou formada em comunicação, a arte de falar e ouvir. Tá certo que é muito simplório resumir o conceito de comunicação nisso, mas não quero aqui discutir conceitos acadêmicos. Quero mesmo é falar que quase nunca tenho problemas comunicativos sérios. Contudo, certas coisas importantes, ruins ou boas, enrolo, prolongo, delego, protelo, mas não consigo falar sobre elas...Olha que paradoxo.
Mas, acho que com todo mundo é assim. Lembrem garotas, da dificuldade de contar pra mãe sobre o primeiro namoro, mesmo que as mães sejam que nem a minha é, super abertas à conversa. Contar um pecadilho, uma briga na escola, uma nota baixa, uma reprovação (e essa tem que contar logo, antes que a diretora ligue). E várias outras coisas. Falar sobre certos assuntos por mais bobos que pareçam aos olhos alheios dá aquela sensação de frio incontrolável na barriga.
É o medo da reprovação do olhar do outro. Porque com os castigos que recebemos, choramos, mas passa. Mas decepcionar o outro, sejam os pais, amigos, parentes ou namorados, é o que gera todo esse transtorno emocional. É o que nos faz ficar às vezes ensaiando no espelho, contando para nós mesmos várias vezes até chegar o momento certo, o momento propício.
Só que de tanto ensaiar, prepararmo-nos, afinal não é fácil para nós, acabamos deixando passar os momentos de falar. Das poucas coisas que aprendi nesses vinte e dois anos com a vida, não existem momentos certos, existem chances de deixamos passar a cada dia que não falamos o que sentimos para o outro, para a pessoa amada, que não pedimos perdão pelo erro, que não abrimos nosso coração com que amamos.
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