Quando liguei a TV, peguei bem essa parte e não aguentei, desliguei
a TV.
"Jô Soares constrange Jout Jout com comentários sexistas"
Sabe o que penso?
Tenho a impressão que quando as pessoas sabem que você é
feminista ou defende alguma causa elas começam a te provocar e ofender para ver
se você encarna o monstro que elas são por serem preconceituosa, ou que você
vai desistir das suas convicções para ficar retardando
igual elas.
Ficam soltando frase clichês do tipo: “hummm... cuidado para
não ficar muito radical”; “Você não acha que tá procurando piolho em cabeça de
careca”; “Viiiixiii, já vai ficar dizendo que qualquer coisa que falo te
ofende”, fazem aquele olhar de “coitadinha dela lutando por causas perdidas,
vem para realidade, vem fiá”, ou pior passam para baixaria mesmo.
É difícil, tem hora que fico desestimulada, penso que
realmente só eu penso assim, será que o mundo é assim mesmo, eu que estou
delirando. Mas, quando vejo essas coisas, como essa que aconteceu com a JoutJout, meu sangue ferve! Tenho vontade de pegar um mega fone e falar:
-Sim, sou radicalmente a favor do amor. Sim, sou feminista!
Tem algum problema?!
-Sim, sou sonhadora! Sim, acredito que com dialogo podemos
construir um mundo mais digno e respeitoso.
-Sim, melhor ser sonhadora e saber sentir do que ser levada
pelo sistema opressor que aniquila nossa diversidade.
-Sim, você pode me provocar, mas não vou virar o monstro que você
pensa que as feministas são. Sabe, você só pensa assim por falta de instrução,
conhecimento e até solidariedade.
-Sim, melhor ser assim com minhas causas do ficar igual um
idiota rindo de piadas machistas, racistas, homofóbicas e preconceituosas.
-Sim, tem muita coisa que você fala que ofende e ofende pra
KCT!
-Sim não vou parar! Estou apenas começando, benhê! Porque se
eu parar de me sentir ofendida vou ficar igual aos idiotas que não tem senso
critico, ou que optaram ser assim mesmo rindo das piadas preconceituosas.
Esse papo de que não se pode mais fazer uma “piadinha
inocente” porque tudo é politicamente incorreto é mais uma vez o discurso
paternalista tentando deslegitimar um movimento de conscientização que diz
“pera aê, isso é errado e temos que repensar”. Um movimento de conscientização
que está despontando e indica os erros históricos, crassos e que infelizmente
foram evoluindo com a humanidade em níveis de exclusão e crueldade enormes.
Como nossa sociedade foi estruturada em torno desses preconceitos e exploração
é claro que tem muita coisa para mudar, mas com certeza não significa que não
se pode fazer piada, seu ignorante! Só que é preciso saber fazer sem ofender,
porque como já disse tão bem o documentário “O riso dos Outros” é muito fácil
(e diria covardia e violência) fazer piada dos explorado.
-Não! Não, é papo furado questionar e dizer zefini a tais discursos dominadores,
discriminatórios e violentos. Para pra pensar... Um pouco só, por favor. Se
você o fizer, vai conseguir criar sem precisar vender a imagem da
mulher-objeto.
-Não, não é piolho em cabeça de careca. É toda a história
humana de discursos que perambulam por aí e que são inculcados na gente, que
até adotamos como certo que não estão certos.
Sabe, ultimamente tenho me sentido meio sufocada, como se
fosse sozinha, mas não sou. E, esse meu desabafo é sim um escracho de apoio a
todas nós e todos nós que somos ofendidos cotidianamente por acreditamos que
tem coisa muito errada nessa normalidade estandardizada e paternalista.
Agora que sai virtualmente da moita, que venham as
ofensas, narizes tortos...
E, para vocês os recalcados, que não conseguem pensar por
suas próprias cabeças ou ter um pingo de senso critico, ficam na condição
papagaio reproduzindo discursos lixos, digo: só lamento! E, beijinho no ombro.
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