segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Capitão Nascimento ou Mahatma Gandhi?

Na hora do “pega pra capar” a maioria chama o Capitão Nascimento ao invés do Mahatma Gandhi. Quando a violência derruba nossa porta preferimos atitudes mais violentas, similar aos anti-heróis dos filmes de ação. Não importa os meios, mas chegar ao nosso bem. É a velha e profética frase de Maquiavel, “os fins justificam os meios”. Homens da paz, como Mahatma Gandhi, servem nessas situações apenas para filmes dramáticos.
Por isso, justifica matar outras pessoas que não tem nada a ver com a situação em prol do bem maior. Não é dessa maneira que pensamos? Os exemplos são históricos, atuais e cíclicos. É só assistir a cobertura midiática sobre a violência no Rio. E, no próximo ano outras situações de violência também serão destaques na mídia. Eleva o Ibope, é a vida real copiando o cinema, ou seria o contrário?
“Trago-lhes a paz com honra”, disse o primeiro ministro britânico Neville Chamberlain em 1878, nas reuniões com a Alemanha nazista para tentar evitar um confronto armado. Mas, a política do “vamos fazer as pazes” durou até que Hittler desrespeitasse os Acordos de Munique, e ferisse interesses econômicos dos ingleses. Ai, a paz foi para o escambau. Então, foi requisitado como primeiro ministro o Capitão Nascimento Winston Churchill. Ali sim, era político com frases de efeito para dar e vender até hoje.
Só que a vida muda, assim também mudam os roteiros. A violência gratuita do “Tropa de Elite I”, que passou por cima de questões éticas, findou com na continuação do filme. Os milhões de brasileiros que repetiam “põem na conta do papa”; “Caveira!”, quando foram no cinema ansiosos por mais doses da ética “bandido bom é bandido morto” viram que o buraco é mais fundo do que o bem versus o mal.
O filme (Tropa de Elite II) parece uma produção hollywoodiana sobre as favelas, com o bom e velho Capitão Nascimento, aprofunda o debate em alguns momentos. Mostra que a violência também é cultivada por todos. Nosso anti-herói assumiu isso ao se perguntar “porque eu mato?”. Mas, as questões que José Padilha (diretor) chama para o debate são esquecidas, porque as pessoas querem o espetáculo. Tudo que Padilha coloca no Tropa II é esquecido com o folhetim midiático (porque jornalismo passou longe) sobre a violência no Rio desses últimos dias.
Mesmo sabendo que a milícia é também responsável por controlar o trafico, os veículos de comunicação na cobertura dos últimos acontecimentos no Rio de Janeiro, ressuscitaram o Capitão Nascimento do Tropa de Elite I. Tem o lado bom e mau. O bandido tem que morrer. É o “logo mais Guerra contra o Crime”. É o que o comentarista do jogo ontem (domingo, 28) disse “...curtam o Rio contra o crime, aqui na Band”. Curtam?! É estimulado o espetáculo da violência.
"Rio Contra o Crime" foi o título da cobertura especial sobre a violência no Rio
E, nós, em casa, curtimos os “bonzinhos” vencendo o mau. Nós, no restante do país, queremos mesmo é o Capitão Nascimento, o Bope, subindo os Morros no Rio, seja do Alemão ou qualquer outro. Afinal, se morássemos no Morro, aceitaríamos também o Bope e os tiros mesmo que sacrificassem alguns inocentes (?).
Esquecemos que o Rio sediará a Copa em 2014 e as Olimpíadas em 2016, e essas políticas de segurança não são apenas porque os bandidos são maus, vendem drogas e armas. Essas operações lá na cidade do Cristo Redentor são também porque vem eventos de grande espetáculo e visibilidade para o país. E na tevê tudo tem que aparecer maquiado, arrumado e o bem vence o mal.
Os gringos vão fazer turismo nas favelas, que por sinal proporcionam vistas magníficas da cidade. Não é à toa que em algumas favelas houve o isolamento de tudo que tem lá, não só bandido, mas do pobre, com a construção de muros. Assim, a classe média dorme melhor sem enxergar seu próprio descaso social.
Esquecemos de nos questionar o que o filme “Tropa de Elite II” mostra, quando os traficantes fogem do Morro alguém assume, e esse alguém pode ser a milícia. Operações semelhantes de subir os Morros, já foram feitas em anos anteriores, mas nem por isso, o crime foi eliminado. Mas, você pode falar dessa vez foi diferente, as emissoras mostravam bandido correndo e fugindo. E, a corrupção dentro da polícia e principalmente no planalto?
É lugar comum dizer, violência só gera violência. Mas, é a verdade. Por que o espetáculo proporcionado pela mídia, coberturas especiais chamadas de “Guerra”, só retomam a idéia de lado bom e mau. Só que no meio do caminho, existem mais coisas. Se um dos meios para o fim fosse a sua morte? Não sei, até aonde seria meu limite e agiria como Mahatma Gandhi. Mas, minha posição é de questionar. Não aceitar como cordeira os discursos das Instituições, como a mídia. Pois, posso vir a ser apenas um meio tanto do lado bom quanto do mau. E a mídia que estimula o espetáculo não faria nada além de mais espetáculo.

Um comentário:

Veriana Ribeiro disse...

obrigado por dizer o que eu estava pensando esses dias. Lindo, todo mundo em frente a televisão na sua casa de classe média aplaudindo a policia invadindo o morro e asteando bandeiras, porque, nossa, como eles são bonzinhos, né?

Me poupem! Dizer que é com ações assim que se acaba com a violência é acreditar que se deve curar doenças com rémedio depois que a epidemia já se alastrou, em vez de fazer ações de prevenção. Ate ter uma política decente de educação, assistência social, geração de emprego e campanhas de consciêntização, vamos subir o morro ainda muitas vezes.

Mas né, é muito mais fácil acreditar no Capitão Nascimento. Que, sinceramente, eu sempre achei um babaca.